9.
Organização do Processo Produtivo
A
recria inicia-se a partir do povoamento dos viveiros com pós-larvas (fases
iniciais obtidas através de um processo de manutenção das larvas em instalações
específicas
–
laboratórios de larvicultura). A reprodução deste tipo de camarão tem início na
água doce. No entanto, as larvas desovadas pelas fêmeas precisam ser mantidas
em água salobra durante aproximadamente 40 dias, até que sofram a metamorfose,
possibilitando a sua liberação nos viveiros de água doce. O processo de
larvicultura é tecnicamente complexo. Embora possa ser conduzido por pequenos
produtores, recomenda-se aos iniciantes a compra de pós- larvas de laboratórios
comerciais para os primeiros povoamentos dos viveiros de recria. A tecnologia
de recria de camarões pode ser definida em três sistemas, cujas características
diferenciais consideram a sua complexidade de manejo:
Sistema
monofásico: Caracterizado pelo emprego de baixa tecnologia, cujos viveiros
escavados no solo (1.000 a 5.000 m²) são povoados com pós-larvas recém
metamorfoseadas na proporção que varia entre 8 a 10 pós-larvas/m². O ciclo tem
duração média de seis meses sem qualquer transferência de viveiros.
Sistema
bifásico: Trata-se da manutenção das pós-larvas recém metamorfoseadas em
viveiros-berçário também escavados no solo (500 a 2.000 m²). As pós-larvas
permanecem nestes viveiros durante aproximadamente dois meses, em densidades
que variam de 70 a 200 pós-larvas/m². Em seguida, os juvenis com peso médio de
±2,0 g são transferidos para os viveiros de engorda, onde permanecem por mais
aproximadamente 4 meses, em densidades de 8 a 10 juvenis/m², sendo despescados
com peso médio de 25 a 30g.
Sistema
trifásico: Semelhante ao anterior, diferindo apenas pela consideração de uma
fase preliminar realizada em berçários primários, onde as pós-larvas recém
metamorfoseadas são estocadas em altas densidades (4 a 8 pós- larvas/Litro)
dentro de tanques de 5 a 35 m³ , construídos em concreto, alvenaria, fibra de
vidro, etc. Esta fase, também conhecida como pré-cultivo, tem duração de 15 a
20 dias, cujos organismos com peso médio de 0,05 g são transferidos para os
berçários secundários, seguindo o manejo descrito no sistema bifásico. O
sistema de criação de camarões no Brasil é semi-intensivo a intensivo e se
caracteriza pela densidade média de estocagem de 20 a 60 indivíduos/m²,
utilizando-se ou não de aeração mecânica, que evidentemente depende da densidade
de estocagem, da utilização de ração balanceada com ajuste de consumo por meio
de comedouros fixos, da correção e tratamento do solo entre cultivos e do
monitoramento dos parâmetros de qualidade da água.
Manejo
alimentar: Em todas as fases os camarões recebem alimentação artificial na
forma de ração balanceada e peletizada, cujos tamanhos das partículas,
quantidades e teores protéicos variam de acordo com a faixa de tamanho dos
camarões. Rações contendo 40 a 25% de proteína bruta são fornecidas na
proporção de 100 a 3% da biomassa total de camarões, respectivamente para as
fases inicias e finais de cultivo. Esta diminuição nas proporções é gradativa
ao longo do tempo de cultivo. Os viveiros escavados no solo oferecem um bom
recurso de alimento natural, composto principalmente pela fauna bentônica que
compreende as formas larvais e adultas de invertebrados aquáticos. A adubação
química ou orgânica dos viveiros é periodicamente praticada a fim de
incrementar esta fauna.
Manejo
hídrico: A qualidade da água deve ser rigorosamente controlada para que as
condições ambientais se estabeleçam dentro dos padrões de exigência dos
camarões a fim de gerar maiores produtividades no cultivo. Teores de oxigênio
dissolvido, pH, temperatura e transparência são parâmetros controlados
diariamente nos viveiros, enquanto que, dureza, alcalinidade e outros são
monitorados semanalmente.
Outros
manejos: Amostragens quinzenais de camarões são realizadas para avaliar o
crescimento dos organismos e obter informações para o cálculo das quantidades
necessárias de ração. As despescas nos viveiros de engorda iniciam-se sempre
que uma boa parcela de camarões já tenha atingido o tamanho comercial. Isto
ocorre geralmente no 40º ou 50º mês de ciclo total (berçário + engorda), cuja
captura dos organismos é feita através de arrasto com rede seletiva. As
despescas seletivas são realizadas a cada 20 dias aproximadamente. Em cada
viveiro de engorda se promove em média 2 a 4 dessas operações. Ao final do
processo, geralmente após seis meses de recria, efetua-se uma despesca total,
operação em que o viveiro é totalmente drenado e todos os camarões são capturados.
Produtividade:
Os valores de produtividade desta atividade variam de acordo com a situação
climática regional e com o tipo de sistema de cultivo empregado (monofásico,
bifásico ou trifásico). Geralmente, produtividades variando entre 1.000 a 3.000
Kg/ha/ano são observadas nos empreendimentos comerciais em operação no Brasil.
Preparação:
A manutenção das boas condições do solo nos viveiros assegura o sucesso dos
cultivos. O solo influência diretamente a qualidade da água e dos camarões que,
por seu hábito bentônico, ficam por mais tempo em contato com a superfície do
solo. A preparação do fundo dos viveiros compreende a esterilização de poças, a
secagem e revolvimento do solo, a correção do pH (acidez) e a vedação das
comportas. A duração desses procedimentos totaliza de 10 a 20 dias, dependendo
do teor de matéria orgânica e da velocidade de sua decomposição pelas
bactérias. A esterilização deve ser feita com a aplicação de cloro nas poças
para eliminar competidores e predadores.
O pH
deve ser corrigido com a utilização de calcário dolomítico, aplicado em duas
etapas, antes e após o revolvimento do solo. O calcário em conjunto com a exposição
do solo aos raios solares e ao oxigênio atmosférico atua melhorando as
condições do ambiente para que ocorra a decomposição da matéria orgânica pelas
bactérias aeróbicas, a qual deverá se manter em níveis inferiores a 4%. Após a
redução de matéria orgânica para os níveis desejados se o pH se mantiver abaixo
do valor mínimo recomendado(ph7), deve-se proceder sua correção utilizando-se
hidróxido ou óxido de cálcio.
Fertilização:
Consiste na adição de compostos inorgânicos em quantidades definidas de acordo
com a concentração de fósforo, nitrogênio e sílica na água de captação. O
objetivo da fertilização é aumentar a produtividade primária, em especial as
algas diatomáceas, por seu valor nutricional. Para isso se recomenda a
manutenção de uma relação N/P entre 10 a 20/1. Como as microalgas desejadas
pertencem ao grupo das diatomáceas, que necessitam de sílica para formação de
sua carapaça, deve ser ofertados, caso necessário, fertilizantes que
disponibilizem sílica ao meio.
Controle
das variáveis hidrobiológicas da água: Este controle é determinante para o
sucesso do cultivo de camarões em condições semi-intensivas e intensivas,
devido a que os processos químicos, físicos e biológicos facilmente entram em
desequilíbrio. O acompanhamento dos parâmetros de qualidade da água se inicia
antes do povoamento e se estende até o final do cultivo e incluem as análises
físicas (temperatura e transparência), químicas (oxigênio dissolvido, pH,
salinidade, alcalinidade, dureza, fosfato, nitrato, nitrito, amônia e sulfatos)
e biológicas (fitoplâncton, zooplâncton, bactérias e clorofila. O
acompanhamento diário dos parâmetros permite a tomada de decisões preventivas e
corretivas de problemas ligados à qualidade da água para mantê-la em condições
ideais tanto para possibilitar o consumo de ração pelo camarão e sua conversão
em biomassa como para evitar o estresse ambiental.
Alimentação:
A ração no viveiro é fornecida, inicialmente, a lanço ou voleio, indo até o 21°
ou até mesmo o 30º dia de cultivo, dependendo da forma de povoamento ou estação
do ano, quando então se inicia a alimentação com o uso de bandejas ou
comedouros fixos, preso em estacas com marcadores de consumo. Com intuito de minimizar
as perdas de alimento, várias estratégias foram adotadas, tais como o uso de
segunda bóia e de bandejas com pés, a utilização do "truque", cano de
arraçoamento, etc. O controle da ração colocada nas bandejas é feito de acordo
com as sobras, cuja quantidade orienta a próxima alimentação reduzindo ou
aumentando a oferta. O ajuste da quantidade é feito através de marcadores que
são argolas presas a um arame, onde o número de argolas posicionados em uma das
extremidades indica a quantidade de ração a ser fornecida na próxima
alimentação. O acompanhamento da quantidade de ração por bandeja é garantido
com a utilização de marcadores em cada bandeja, o que possibilita a
identificação dos setores do viveiro nos quais há maior e menor consumo. O
objetivo da segunda bóia é reduzir a velocidade de descida da bandeja para no
máximo 10 cm/s e evitar a perda de ração, que pode variar entre 8,0% e 83,4%.
Os pés das bandejas as mantêm afastadas do fundo e evita a mistura de
sedimentos à ração, afasta os camarões dos metabólitos durante a alimentação,
reduz a obstrução da tela das bandejas e impede que camarões fiquem presos
entre a bandeja e o fundo do viveiro. Hoje é possível obter conversões
alimentares abaixo de 1,5/1 em cultivos de 130 dias com camarões da classificação
80/100, mesmo com densidades superiores a 60 camarões/m². Além de incrementar a
qualidade da água de cultivo e, conseqüentemente, de seus efluentes, o sistema
de arraçoamento em bandejas fixas contribui para a diminuição da troca de água
nos cultivos semi-intensivos e intensivos, e, efetivamente, reduz o desperdício
de ração sem afetar o crescimento dos camarões, incidindo na redução dos custos
de produção da fazenda.
Biometria
e Avaliação: É um método para medir o incremento semanal de peso dos camarões
estocados e realizar os ajustes na quantidade de ração semanal ofertada aos
animais. Com os resultados da biometria é possível se identificar um baixo
crescimento ou alta taxa de FCA, procedendo com os ajustes recomendados. As
biometrias são realizadas semanalmente a partir do 30º ao 35º dia de cultivo e
consistem em capturar, com o auxílio de uma tarrafa, um número representativo
de camarões em vários pontos de cada viveiro de engorda, os quais são pesados
para determinação do peso médio. Durante as biometrias são observados o grau de
repleção do intestino dos camarões, a presença de doenças e de parasitas e a
prática do canibalismo. A avaliação é também importante para definir o momento
da despesca. Quando os camarões chegam as 7g são realizadas as avaliações
diárias para o acompanhamento da qualidade com vistas à despesca, examinando
individualmente os animais para determinar o percentual de defeitos,
especialmente da necrose e de camarões moles ou semi-moles e, também, das
classes de tamanho.
10.
Automação
Devido
a complexidade do processo produtivo, e ao grande número de variáveis que devem
ser constantemente monitoradas, sugerimos a aquisição de um software de
gerenciamento, o qual não foi encontrado nenhum disponível no mercado com
representação suficiente para ser indicado aqui. A maioria das empresas que produzem
software está habilitada a fornecer tal solução, desde que haja uma
customização do software.
11.
Canais de Distribuição
Os
canais de distribuição na criação de camarão em cativeiro estão associadas aos
três elos fundamentais da cadeia de produção: as unidades produtivas, os
intermediários e empresas de beneficiamento, e os mercados de consumo.
Por
diversas razões, dentre elas a falta de uma estrutura de distribuição e
armazenamento (frigorífico), e a falta do selo de inspeção sanitária, dentre
outros fatores, muitos produtores acabam comercializando o camarão "in
natura" nas feiras livres e peixarias, com baixo índice de retorno.
Quando
devidamente legalizada, a produção pode ser comercializada junto a bares,
lanchonetes, restaurantes, hotéis, supermercados e empresas especializadas em
congelamento, geralmente consumidas por uma população de maior poder
aquisitivo, que demanda espécies mais nobres.
12.
Investimento
O
investimento inicial com instalações gira em torno de R$ 30.000,00 para cada
hectare de lâmina d’água de projeto. O custo operacional varia entre R$ 5,00 a
R$ 10,00 para cada quilograma de camarão produzido. O valor de venda entre R$
20,00 a R$ 40,00 varia de acordo com o padrão do produto e tipo de mercado
(atacado ou varejo). O mercado consumidor é bastante diversificado, podendo-se
citar as redes de supermercados, hotéis, restaurantes e lojas especializadas em
pescados. Trata-se de um produto nobre, com excelente aceitação nos mercados
interno e externo.
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