sábado, 6 de junho de 2015

Como montar uma criação de camarão - PARTE 4

9. Organização do Processo Produtivo
 



A recria inicia-se a partir do povoamento dos viveiros com pós-larvas (fases iniciais obtidas através de um processo de manutenção das larvas em instalações específicas

– laboratórios de larvicultura). A reprodução deste tipo de camarão tem início na água doce. No entanto, as larvas desovadas pelas fêmeas precisam ser mantidas em água salobra durante aproximadamente 40 dias, até que sofram a metamorfose, possibilitando a sua liberação nos viveiros de água doce. O processo de larvicultura é tecnicamente complexo. Embora possa ser conduzido por pequenos produtores, recomenda-se aos iniciantes a compra de pós- larvas de laboratórios comerciais para os primeiros povoamentos dos viveiros de recria. A tecnologia de recria de camarões pode ser definida em três sistemas, cujas características diferenciais consideram a sua complexidade de manejo:

Sistema monofásico: Caracterizado pelo emprego de baixa tecnologia, cujos viveiros escavados no solo (1.000 a 5.000 m²) são povoados com pós-larvas recém metamorfoseadas na proporção que varia entre 8 a 10 pós-larvas/m². O ciclo tem duração média de seis meses sem qualquer transferência de viveiros.

Sistema bifásico: Trata-se da manutenção das pós-larvas recém metamorfoseadas em viveiros-berçário também escavados no solo (500 a 2.000 m²). As pós-larvas permanecem nestes viveiros durante aproximadamente dois meses, em densidades que variam de 70 a 200 pós-larvas/m². Em seguida, os juvenis com peso médio de ±2,0 g são transferidos para os viveiros de engorda, onde permanecem por mais aproximadamente 4 meses, em densidades de 8 a 10 juvenis/m², sendo despescados com peso médio de 25 a 30g.

Sistema trifásico: Semelhante ao anterior, diferindo apenas pela consideração de uma fase preliminar realizada em berçários primários, onde as pós-larvas recém metamorfoseadas são estocadas em altas densidades (4 a 8 pós- larvas/Litro) dentro de tanques de 5 a 35 m³ , construídos em concreto, alvenaria, fibra de vidro, etc. Esta fase, também conhecida como pré-cultivo, tem duração de 15 a 20 dias, cujos organismos com peso médio de 0,05 g são transferidos para os berçários secundários, seguindo o manejo descrito no sistema bifásico. O sistema de criação de camarões no Brasil é semi-intensivo a intensivo e se caracteriza pela densidade média de estocagem de 20 a 60 indivíduos/m², utilizando-se ou não de aeração mecânica, que evidentemente depende da densidade de estocagem, da utilização de ração balanceada com ajuste de consumo por meio de comedouros fixos, da correção e tratamento do solo entre cultivos e do monitoramento dos parâmetros de qualidade da água.

Manejo alimentar: Em todas as fases os camarões recebem alimentação artificial na forma de ração balanceada e peletizada, cujos tamanhos das partículas, quantidades e teores protéicos variam de acordo com a faixa de tamanho dos camarões. Rações contendo 40 a 25% de proteína bruta são fornecidas na proporção de 100 a 3% da biomassa total de camarões, respectivamente para as fases inicias e finais de cultivo. Esta diminuição nas proporções é gradativa ao longo do tempo de cultivo. Os viveiros escavados no solo oferecem um bom recurso de alimento natural, composto principalmente pela fauna bentônica que compreende as formas larvais e adultas de invertebrados aquáticos. A adubação química ou orgânica dos viveiros é periodicamente praticada a fim de incrementar esta fauna.

Manejo hídrico: A qualidade da água deve ser rigorosamente controlada para que as condições ambientais se estabeleçam dentro dos padrões de exigência dos camarões a fim de gerar maiores produtividades no cultivo. Teores de oxigênio dissolvido, pH, temperatura e transparência são parâmetros controlados diariamente nos viveiros, enquanto que, dureza, alcalinidade e outros são monitorados semanalmente.

Outros manejos: Amostragens quinzenais de camarões são realizadas para avaliar o crescimento dos organismos e obter informações para o cálculo das quantidades necessárias de ração. As despescas nos viveiros de engorda iniciam-se sempre que uma boa parcela de camarões já tenha atingido o tamanho comercial. Isto ocorre geralmente no 40º ou 50º mês de ciclo total (berçário + engorda), cuja captura dos organismos é feita através de arrasto com rede seletiva. As despescas seletivas são realizadas a cada 20 dias aproximadamente. Em cada viveiro de engorda se promove em média 2 a 4 dessas operações. Ao final do processo, geralmente após seis meses de recria, efetua-se uma despesca total, operação em que o viveiro é totalmente drenado e todos os camarões são capturados.

Produtividade: Os valores de produtividade desta atividade variam de acordo com a situação climática regional e com o tipo de sistema de cultivo empregado (monofásico, bifásico ou trifásico). Geralmente, produtividades variando entre 1.000 a 3.000 Kg/ha/ano são observadas nos empreendimentos comerciais em operação no Brasil.




Preparação: A manutenção das boas condições do solo nos viveiros assegura o sucesso dos cultivos. O solo influência diretamente a qualidade da água e dos camarões que, por seu hábito bentônico, ficam por mais tempo em contato com a superfície do solo. A preparação do fundo dos viveiros compreende a esterilização de poças, a secagem e revolvimento do solo, a correção do pH (acidez) e a vedação das comportas. A duração desses procedimentos totaliza de 10 a 20 dias, dependendo do teor de matéria orgânica e da velocidade de sua decomposição pelas bactérias. A esterilização deve ser feita com a aplicação de cloro nas poças para eliminar competidores e predadores.

O pH deve ser corrigido com a utilização de calcário dolomítico, aplicado em duas etapas, antes e após o revolvimento do solo. O calcário em conjunto com a exposição do solo aos raios solares e ao oxigênio atmosférico atua melhorando as condições do ambiente para que ocorra a decomposição da matéria orgânica pelas bactérias aeróbicas, a qual deverá se manter em níveis inferiores a 4%. Após a redução de matéria orgânica para os níveis desejados se o pH se mantiver abaixo do valor mínimo recomendado(ph7), deve-se proceder sua correção utilizando-se hidróxido ou óxido de cálcio.

Fertilização: Consiste na adição de compostos inorgânicos em quantidades definidas de acordo com a concentração de fósforo, nitrogênio e sílica na água de captação. O objetivo da fertilização é aumentar a produtividade primária, em especial as algas diatomáceas, por seu valor nutricional. Para isso se recomenda a manutenção de uma relação N/P entre 10 a 20/1. Como as microalgas desejadas pertencem ao grupo das diatomáceas, que necessitam de sílica para formação de sua carapaça, deve ser ofertados, caso necessário, fertilizantes que disponibilizem sílica ao meio.

Controle das variáveis hidrobiológicas da água: Este controle é determinante para o sucesso do cultivo de camarões em condições semi-intensivas e intensivas, devido a que os processos químicos, físicos e biológicos facilmente entram em desequilíbrio. O acompanhamento dos parâmetros de qualidade da água se inicia antes do povoamento e se estende até o final do cultivo e incluem as análises físicas (temperatura e transparência), químicas (oxigênio dissolvido, pH, salinidade, alcalinidade, dureza, fosfato, nitrato, nitrito, amônia e sulfatos) e biológicas (fitoplâncton, zooplâncton, bactérias e clorofila. O acompanhamento diário dos parâmetros permite a tomada de decisões preventivas e corretivas de problemas ligados à qualidade da água para mantê-la em condições ideais tanto para possibilitar o consumo de ração pelo camarão e sua conversão em biomassa como para evitar o estresse ambiental.


Alimentação: A ração no viveiro é fornecida, inicialmente, a lanço ou voleio, indo até o 21° ou até mesmo o 30º dia de cultivo, dependendo da forma de povoamento ou estação do ano, quando então se inicia a alimentação com o uso de bandejas ou comedouros fixos, preso em estacas com marcadores de consumo. Com intuito de minimizar as perdas de alimento, várias estratégias foram adotadas, tais como o uso de segunda bóia e de bandejas com pés, a utilização do "truque", cano de arraçoamento, etc. O controle da ração colocada nas bandejas é feito de acordo com as sobras, cuja quantidade orienta a próxima alimentação reduzindo ou aumentando a oferta. O ajuste da quantidade é feito através de marcadores que são argolas presas a um arame, onde o número de argolas posicionados em uma das extremidades indica a quantidade de ração a ser fornecida na próxima alimentação. O acompanhamento da quantidade de ração por bandeja é garantido com a utilização de marcadores em cada bandeja, o que possibilita a identificação dos setores do viveiro nos quais há maior e menor consumo. O objetivo da segunda bóia é reduzir a velocidade de descida da bandeja para no máximo 10 cm/s e evitar a perda de ração, que pode variar entre 8,0% e 83,4%. Os pés das bandejas as mantêm afastadas do fundo e evita a mistura de sedimentos à ração, afasta os camarões dos metabólitos durante a alimentação, reduz a obstrução da tela das bandejas e impede que camarões fiquem presos entre a bandeja e o fundo do viveiro. Hoje é possível obter conversões alimentares abaixo de 1,5/1 em cultivos de 130 dias com camarões da classificação 80/100, mesmo com densidades superiores a 60 camarões/m². Além de incrementar a qualidade da água de cultivo e, conseqüentemente, de seus efluentes, o sistema de arraçoamento em bandejas fixas contribui para a diminuição da troca de água nos cultivos semi-intensivos e intensivos, e, efetivamente, reduz o desperdício de ração sem afetar o crescimento dos camarões, incidindo na redução dos custos de produção da fazenda.

Biometria e Avaliação: É um método para medir o incremento semanal de peso dos camarões estocados e realizar os ajustes na quantidade de ração semanal ofertada aos animais. Com os resultados da biometria é possível se identificar um baixo crescimento ou alta taxa de FCA, procedendo com os ajustes recomendados. As biometrias são realizadas semanalmente a partir do 30º ao 35º dia de cultivo e consistem em capturar, com o auxílio de uma tarrafa, um número representativo de camarões em vários pontos de cada viveiro de engorda, os quais são pesados para determinação do peso médio. Durante as biometrias são observados o grau de repleção do intestino dos camarões, a presença de doenças e de parasitas e a prática do canibalismo. A avaliação é também importante para definir o momento da despesca. Quando os camarões chegam as 7g são realizadas as avaliações diárias para o acompanhamento da qualidade com vistas à despesca, examinando individualmente os animais para determinar o percentual de defeitos, especialmente da necrose e de camarões moles ou semi-moles e, também, das classes de tamanho.


10. Automação

Devido a complexidade do processo produtivo, e ao grande número de variáveis que devem ser constantemente monitoradas, sugerimos a aquisição de um software de gerenciamento, o qual não foi encontrado nenhum disponível no mercado com representação suficiente para ser indicado aqui. A maioria das empresas que produzem software está habilitada a fornecer tal solução, desde que haja uma customização do software.

11. Canais de Distribuição

Os canais de distribuição na criação de camarão em cativeiro estão associadas aos três elos fundamentais da cadeia de produção: as unidades produtivas, os intermediários e empresas de beneficiamento, e os mercados de consumo.

Por diversas razões, dentre elas a falta de uma estrutura de distribuição e armazenamento (frigorífico), e a falta do selo de inspeção sanitária, dentre outros fatores, muitos produtores acabam comercializando o camarão "in natura" nas feiras livres e peixarias, com baixo índice de retorno.

Quando devidamente legalizada, a produção pode ser comercializada junto a bares, lanchonetes, restaurantes, hotéis, supermercados e empresas especializadas em congelamento, geralmente consumidas por uma população de maior poder aquisitivo, que demanda espécies mais nobres.


12. Investimento

O investimento inicial com instalações gira em torno de R$ 30.000,00 para cada hectare de lâmina d’água de projeto. O custo operacional varia entre R$ 5,00 a R$ 10,00 para cada quilograma de camarão produzido. O valor de venda entre R$ 20,00 a R$ 40,00 varia de acordo com o padrão do produto e tipo de mercado (atacado ou varejo). O mercado consumidor é bastante diversificado, podendo-se citar as redes de supermercados, hotéis, restaurantes e lojas especializadas em pescados. Trata-se de um produto nobre, com excelente aceitação nos mercados interno e externo.


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